A ferramenta de autogestão das cooperativas agropecuárias e seus benefícios econômicos e financeiros para o sistema foram o tema central da primeira edição do Seminário Estadual de Autogestão, realizado nesta quinta-feira, 17 de novembro, com a organização da Federação das Cooperativas Agropecuárias no Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) em parceria com sistema Ocergs/Sescoop. Dirigentes de cooperativas gaúchas e paranaenses estiveram presentes no evento que ocorreu na Casa do Cooperativismo, localizada no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio (RS).
Conforme o presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires, o objetivo foi a de criar um marco de discussão com as cooperativas do Paraná, que desde os anos de 1990 vem implementando o projeto e obtendo resultados. O dirigente ressaltou a importância do programa para a gestão do sistema, onde as cooperativas mantém suas individualidades mas apresentam um crescimento conjunto, além do quesito transparência na organização junto aos associados. "Este é um programa de construção. Temos dito que este é o programa mais importante que temos liderado que trata da questão econômica e financeira. Se a cooperativa não vai bem ela não pode ajudar o produtor, estamos tratando a profissionalização das cooperativas em seu dia a dia para que elas sejam cada vez mais competitivas em um mercado tão difícil", observou.
O presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná, José Roberto Ricken, traçou um cenário das mudanças globais e do país, a importância do Brasil no fornecimento de alimentos para o mundo e como as cooperativas podem contribuir com este panorama. Nesta tendência, a autogestão, implementada há 26 anos no Estado, se tornou indispensável para a manutenção das atividades das cooperativas agropecuárias. O dirigente lembrou que em mais de cem municípios paranaenses, a cooperativa local é a maior empresa da região de atuação. "O modelo das cooperativas é mais moderno que o tradicional. O modelo do produtor produzindo para a grande empresa e ela tendo todo o resultado, não é o modelo que o produtor quer. E o melhor modelo é o do cooperativismo", ressaltou.
O planejamento da Ocepar é de que as receitas das cooperativas cheguem a R$ 100 bilhões até 2020. Hoje, com crescimento nominal de 15,9% ao ano, o valor total é de R$ 60 bilhões. Em outro momento, o gerente de Monitoramento da entidade, Gerson Lauermann, explicou aos participantes o funcionamento do sistema de autogestão e como ele pode auxiliar na leitura de indicadores das cooperativas. O sistema se alinha com outras ferramentas que ajudam no direcionamento dos investimentos, na capacitação de profissionais e na excelência da gestão. "Tenho que ter processo, tenho que ter controle e preciso ver o que está melhorando dentro da cooperativa. Com isso, acreditamos que o sistema de autogestão vai estar contribuindo com a evolução", pontuou.
Exemplos de autogestão também foram tema do seminário. A Bom Jesus Cooperativa Agroindustrial, de Lapa (PR) vem apresentando um crescimento médio de 17% ao ano. Um dos segredos, conforme o presidente da cooperativa, Luiz Roberto Baggio, vem sendo o equilíbrio do capital de giro que a Bom Jesus vem desenvolvendo a partir do programa de autogestão. No modelo de negócios estão apenas investimentos no que a cooperativa pode ter ganho de escala. Nas demais atividades são realizadas parcerias com outras cooperativas ou empresas do mercado. "O conforto para o nosso cooperado é saber da confiabilidade a médio e longo prazo. Preparamos o associado sobre a questão da governança e formamos multiplicadores em relação a este tema", informou.
No Rio Grande do Sul, um dos exemplos mais salientes vem sendo da Cotrisal, de Sarandi. A cooperativa atua com foco em resultado e eficiência na atuação. O trabalho é dividido em duas linhas com três pilares cada: a avaliação de negócios baseada no faturamento, nas margens e nas despesas, e a sustentação da atividade apoiada pelos processos, pela infraestrutura e pelas pessoas. Segundo o gerente administrativo da Cotrisal, Clairton Elio Osmari, o desempenho financeiro precisa ser adequado ao volume de operações da cooperativa. A troca de experiências também tem sido um dos motivos de êxito. "Na Cotrisal, nos últimos cinco anos, percebemos que a troca de informações com outras cooperativas da região nos trouxe um resultado muito bom na sustentação de negócios", afirmou.
O gerente executivo da Diretoria de Agronegócios do Banco do Brasil, Gunther Knak, avaliou como importante e fundamental a transparência que os dados gerados pelo sistema de autogestão apresenta para as cooperativas na hora da liberação de créditos para as cooperativas. Disse que o banco tem 2,5 mil cooperativas como correntistas da instituição financeira, o que representa 24% do Market Share. O dirigente apresentou que a inadimplência do sistema é de apenas 0,25%. "O cooperativismo analisado pelo Banco do Brasil teve uma melhora de risco de 26% nas duas últimas safras. Isso demonstra que o cooperativismo no país vai muito bem", acrescentou.