A produção primária brasileira viveu um crescimento chinês nos últimos 25 anos e deve continuar avançando em vendas mundiais de grãos e carnes pelo menos nos próximos 15 anos. O cenário extremamente positivo ao setor foi tema da palestra “O Futuro do Agronegócio”, ministrado pelo engenheiro agrônomo e professor titular da FEA/USP, Marcos Fava Neves, no Fórum Nacional da Soja nesta terça-feira, 6 de março. Realizado na 19ª Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS), o evento abordou a trajetória e os possíveis avanços tecnológicos e econômicos da oleaginosa, que dominou considerável espaço na pauta de exportação brasileira.
Segundo Neves, apesar do início de uma reação da economia interna nacional os produtores brasileiros devem ficar atentos para as estratégias em ocupar o mercado mundial com todos os tipos de produtos. “O consumidor não estará aqui, mas sim na Ásia e África”, alertou o engenheiro agrônomo, destacando a Tailândia e a Índia. Especificamente para a soja, as perspectivas são mais animadoras ainda em especial para abastecer os chineses que devem seguir aumentando as compras da oleaginosa verde-amarela. O cenário positivo, porém, não exime o Brasil de repensar a logística, a armazenagem e a construção de margens na cadeia produtiva do agronegócio por meio do seu custo de produção. “Vai ter muito mercado pela frente, pelo preço atual”, destacou o palestrante.
No evento, o coordenador técnico da CCGL, José Ruedell, ministrou a palestra “Plantio direto: história, motivações e fundamentos técnicos. Enfatizou que a soja é originalmente uma planta da China e que, ao longo do tempo, foi transformada através do trabalho da seleção genética como matéria-prima para os produtos de consumo atual. Ele explicou as diferenças do processo convencional para o direto e a importância da preocupação da proteção do solo e da água para garantir da rentabilidade da cultura.
Por conta disso, Ruedell defende um projeto inovador para as próximas safras, de viabilidade de rotação de culturas. “O americanos estimam que para cada dólar investido na conservação do solo faz a sociedade economizar US$ 5”, afirmou.
Uma nova geração de conhecimento de plantio direto também foi destacada pelo representante do Fórum dos Pro-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa na Comissão Brasileira de Agricultura de precisão (CBAP), Antônio Luis Santi. Ele ministrou a palestra “A busca por altas produtividades: o solo, as plantas de cobertura e a qualidade da lavoura” e alerta para a necessidade de uma reorganização do sistema de plantio. Para ele, produzir mais implica em um plano de rotação inteligente que passa pela utilização de ferramentas da agricultura de precisão como base do processo para a não estagnação das lavouras.
Santi complementa ainda que “a busca por altas produtividades requer cuidar dos detalhes”. Para ele, palha picada em excesso e mal distribuída na colheita e o estresse hídrico, por exemplo, são situações muito sérias para a fertilidade da semente e da lavoura. “A cultura é o melhor sensor sobre o ambiente na qual está inserida. Conhecer o que a cultura esta sentindo pode fornecer informações para direcionar intervenções de manejo. Nós precisamos conhecer melhor o solo e amá-lo mais. As tecnologias de precisão podem e devem nos levar mais longe", ressaltou.
O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, destacou na abertura do evento que o sistema de plantio direto foi uma das principais revoluções agrícolas nos últimos 50 anos e talvez da história. “Mas temos um potencial muito grande a ser desenvolvido”, observou.
Além dos debates, os organizadores do Fórum Nacional da Soja homenagearam o jornalista Waldir Antônio Reck pela trajetória de décadas de cobertura do desenvolvimento do agronegócio gaúcho e pela organização do evento até a edição passada.