“Um geoparque não pode só contar a história da terra, da geologia, ele também precisa contar a história de todas as pessoas que já viveram e moram nesse território, suas culturas, além do patrimônio natural em si”, afirmou a vice-diretora do Quarta Colônia Geoparques Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Michele Vestena, no 38º Encontro Estadual de Professores do Ensino Agrícola no Recanto Maestro, em Restinga Sêca (RS), promovido pela Associação Gaúcha de Professores Técnicos de Ensino Agrícola (Agptea).
Michele foi uma das palestrantes do painel “Os três Geoparques do RS e sua importância estratégica para o Estado”, realizado nesta quinta-feira, dia 27 de outubro, terceiro dia de programação do Encontro. Ela trouxe informações importantes para os participantes do evento. Segundo ela, os geoparques são uma certificação concedida pela Unesco para um território que, primeiramente, precisa ter um patrimônio geológico de relevância mundial. É o primeiro ponto de partida. “Mas não basta ter esse patrimônio, ele precisa ser preservado e ter uma estratégia de desenvolvimento sustentável para as pessoas que moram nesse território. Essa é a grande questão”, pontuou.
Conforme Michele, a Unesco possui uma rede de 195 geoparques no planeta, sendo cinco no Brasil certificados. “É um número pequeno em relação ao mundo, mas temos potencial para ter muito mais no país”, alertou. Os mais recentes certificados no Brasil estão localizados no Rio Grande do Sul. Em maio, durante a 216ª reunião do Conselho Executivo do órgão, em Paris, foram nomeados os destinos Quarta Colônia e Caçapava do Sul, após um longo processo envolvendo diversos parceiros.
Michele complementou que um geoparque territorialmente falando pode ser tanto um município como é o exemplo de Caçapava do Sul, quanto um conjunto de municípios que é o exemplo da Quarta Colônia - que reúne fósseis de 235 milhões de anos atrás, alguns considerados os mais antigos do mundo e muito bem preservados, principalmente de dinossauros. “A certificação não é permanente, nós temos uma reavaliação a cada quatro anos, que envolve preservação, geração de renda, educação e turismo”, informou.
A chefe da Subdivisão de geoparques da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Patrícia de Freitas Ferreira, detalhou o geoparque de Caçapava do Sul. “Aqui encontramos rochas de mais de 500 milhões de anos, elas contam a história da terra, trazem a memória da terra. Além disso, fósseis encontrados de preguiças gigantes, plantas endêmicas, esse conjunto todo fez com que alcançássemos essa certificação, principalmente”, explicou, lembrando o trabalho feito com a comunidade, com as escolas e com programas de educação composto por um cardápio de 16 atividades. “Em Caçapava temos uma rede de parceiros oficiais muito forte e a Unesco, em seu relatório, destacou que ela é um case de sucesso a ser mostrado para o mundo inteiro”, apontou.
Já a técnica em Assuntos Educacionais na subdivisão de geoparques da UFSM, Giseli Duarte Bastos, explicou que as gerações futuras precisam compreender a importância do patrimônio natural e geológico que se encontra em seu território e ajudem a conservá-lo e gerir de forma sustentável. Por conta disso, no geoparque da Quarta Colônia, por exemplo, há diversas iniciativas com várias ações de formação de professores, com jornadas interdisciplinares para 500 docentes, para crianças em anos escolares iniciais, com temáticas anuais. “Se incentiva que eles façam pesquisas desde crianças, conheçam seu território e se preocupem em registrar sua aprendizagem e comunicar para a comunidade externa”, finalizou.
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