Os problemas causados pela estiagem no Rio Grande do Sul na pecuária de corte podem comprometer a qualidade dos abates de futuros novilhos em dois ou três anos. Segundo o integrante do Conselho Técnico da Conexão Delta G, José Fernando Lobato, professor do departamento de Zootecnia da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a qualidade da carne de novilhos precoces com abate desde o início de 2024, com 18 ou 20 meses de idade, até o abate aos dois anos ou dois anos e meio, na dentição de quatro dentes, que é o limite que determina um novilho precoce, deverá ser afetada em seu teor de músculo, gordura e até a decantada gordura de marmoreio, pois está impactando na nutrição fetal se as vacas já estão prenhes.
Conforme Lobato, as sequelas de situações como esta mostram que, se as vacas não emprenharem nos meses de novembro à janeiro e fevereiro dependendo do período de reprodução de cada fazenda, para parir quando tem oferta de pasto, não nascerá nada em setembro e outubro deste ano de 2022. "E ao não parir, não teremos terneiros para desmamar em março de 2023. Os animais de março de 2023, para ser um novilho precoce dois dentes, precisam ser abatidos até setembro ou outubro de 2024. Ou seja, a taxa de desfrute de 2024 e 2025 está sendo determinada agora. O número de terneiras, futuras novilhas de reposição está sendo definido neste momento", explica.
O professor lembra que as secas são frequentes e elas tendem a se repetir. Para evitar a situação acima, é preciso algumas soluções para que não haja maiores prejuízos. A oferta de água aos animais é fundamental no atual estágio. "É preciso aproveitar e fazer açudes maiores para maior volume de água e garantia de hidratação dos animais e maior qualidade de água. Aprendi com um grande mestre que água é o alimento mais importante. Com as temperaturas que estão fazendo e não tendo sombras dentro dos potreiros, os animais vão para dentro das aguadas", salienta, acrescentando ainda que algumas fazendas já usam do expediente de bebedouros de concreto com poço artesiano.
Lobato reforça que os animais vão em busca do conforto térmico e nesta procura eles reduzem pastejo, o que diminui a produção de leite e consequentemente vai afetar o peso ao desmame agora em março e abril. "O produtor deve pensar onde fazer estas aguadas, e elas não podem ser pequenas. A seca se repetindo, animais especialmente taurinos, buscam estas aguadas", destaca.
Outra questão, de acordo com o integrante do Conselho Técnico da Conexão Delta G, é pensar no inverno, em especial com a oferta de pastagens, fazendo reservas forrageiras para fazer frente às secas que se repetem há anos. "Pensando no inverno, com geadas, temos campos que são de crescimentos estivais, e temos uma curva clássica de crescimento de campos nativos, já pesquisados em São Gabriel em uma média de quatro anos. A partir de fevereiro e março, esse crescimento se reduz e o buraco forrageiro é de abril e maio até o fim de agosto conforme as múltiplas regiões de pecuária do Rio Grande do Sul, e os campos só vão voltar a crescer a partir do final de agosto e início de setembro. E este ano os campos estarão rapados ou queimados", lembra.
Lobato reforça também a questão da suplementação da oferta de alimentação. Um exemplo já visto em algumas propriedades é a utilização de rolos de feno para alimentação animal, no qual frisa que hoje esta prática já está sendo realizada em algumas fazendas. “Precisamos de todas as propriedades tendo reservas forrageiras como o feno que já teve o momento de confecção por alguns e cada vez mais com as secas de verão e os problemas de inverno já conhecidos, precisamos destas reservas forrageiras como volumosos para vacas adultas”, conclui.
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