A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) enxerga com preocupação as supostas ofertas que produtores de arroz estariam recebendo das indústrias do setor para que plantem as cultivares denominadas "nobres" mediante pagamento de 20% a mais do que o valor de mercado relativo à variedade Irga 424, criada pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), lembrando que essa cultivar já pode ser denominada de “a nova revolução verde do arroz”. Segundo o presidente da entidade, Henrique Dornelles o parâmetro proposto pela indústria, apesar de positivo, não assegura rentabilidade ao produtor, uma vez que esta não reverte em qualquer garantia sobre o preço que estará sendo comercializada a cultivar do Irga. Além disso, adverte que a situação poderá ser agravada pelo fato de que a "vulnerabilidade e variação de produtividade encontradas nessas variedades podem trazer mais riscos ao produtor, revertendo em ainda maiores dificuldades ao produtor que já se encontra descapitalizado", avalia o dirigente. A entidade lembra que, apesar dos esforços junto ao Governo Federal, os custos de produção para Safra 2017/2018 deverão permanecer elevados, sendo que o custo por saca deve partir de, no mínimo, R$ 44,00, dependendo da produtividade do produtor. "Possivelmente teremos um primeiro semestre de 2018 também de preços abaixo do custo de produção, como ocorreu nos últimos três anos", observa Dornelles. Conforme o presidente da Federarroz, a entidade recomenda que produtor faça os seus cálculos e avalie muito bem a proposta das indústrias, sob pena de nova descapitalização. A entidade também solicita que os produtores que necessitem efetivar vendas no primeiro semestre adotem estratégia com o objetivo de compatibilizar recursos com a renda prevista na venda do grão, tais como tamanho da área plantada. "Eventual redução de área significa menor faturamento, mas não necessariamente menor lucro ou renda, sendo que os mandamentos financeiros são exclusivamente lucro e caixa", salienta. A cultivar Irga 424 foi criada com o objetivo de dar estabilidade produtiva ao produtor e maior volume, dadas as condições de competitividade impostas pelo Mercosul. Caso o produtor assumir o plantio das “cultivares nobres”, inclusive de maior custo devido a necessidade de aplicação de fungicida, o importante seria repartir o risco com o demandante, no caso a indústria, para que ela assegure pelo menos o custo de produção. Ficar na dependência de valorização, ou mesmo desvalorização de uma cultivar de menor custo unitário e segurança, no caso 424, não contribui para atenuar as dificuldades de comercialização que o setor arrozeiro historicamente possui.
Foto: Fagner Almeida/Divulgação